Desejo neste dia em que a Igreja faz memória de um dos grandes santos de nossos tempos, São João Paulo II, meditar um pouco sobre esta pequena frase tirada de um dos versos de um poema no qual ele escreveu em sua juventude. Ela expressa uma das mais belas heranças que recebeu de seus pais, em especial de sua mãe: a profunda intimidade com o Deus que é perfeito amor.
Voltemo-nos para o ato criador do Deus eterno, Aquele cuja existência nunca teve início e nunca terá fim, que quis criar o mundo e vendo que tudo era bom disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança.” (Gên. 1, 26) E, assim “Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher.” (Gên. 1, 27). “O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhes nas narinas o sopro da vida e o homem se tornou um ser vivente” (Gên. 2, 7). Olhando para o episódio da criação descobrimos de onde viemos, ou seja, qual é a nossa origem. Podemos ainda contemplar a grandeza do motivo pelo qual fomos criados: o amor, ou seja, Deus, pois “Deus é amor” (1Jo. 4, 8). “Se o homem existe, é porque Deus o criou por amor e, por amor, não cessa de dar-lhe o ser (…).” (C.I.C. n° 27).
Deus não precisava, mas quis nos criar e partilhar conosco a vida eterna, a felicidade, a bem-aventurança, Ele quis nos criar porque viu que seria bom. O Deus trino nos deu o ser não foi por um acaso, mas foi porque Ele nos ama. Uma das provas desta realidade é o fato d’Ele ter colocado toda a criação sob o governo do homem, tudo foi feito por Deus de presente para a humanidade para que todos, por meio da criação, cheguem a Ele. “Deus, criando e conservando todas as coisas pelo Verbo, oferece aos homens um testemunho perene de Si mesmo na criação” (C.I.C. n° 54). É a criação um testemunho do amor infinito de nosso Criador!
Deus, a origem do homem, o princípio de todas as coisas criadas, é a razão de nossa existência, é o motivo pelo qual, simplesmente, somos. Sem Ele não existiríamos. A nossa essência está no Deus vivo, nossa natureza vem d’Ele. Ah se não fosse Seu divino Amor!
Sabemos que, com os nossos primeiros pais, Adão e Eva, mesmo diante de tão incondicional amor, o pecado entrou na humanidade. O homem, criado a imagem e semelhança de Deus, livre para fazer suas escolhas, livre para dizer ‘sim’ ou ‘não’ decidiu ir contra o pedido de seu Deus comendo do fruto proibido e quis se fazer deus. O Senhor deu este preceito aos nossos pais: “Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim; mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque no dia em que dele comeres, morrerás indubitavelmente” (Gên. 2, 16-17), mas não foram fiéis e se deixaram levar pelo demônio, astuto e inteligente, que os fizeram cair no mesmo pecado que ele quando foi expulso da presença de Deus: “sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal” (Gên. 3, 5).
Diante da infidelidade de Adão e Eva Deus não abandonou a humanidade nas mãos da morte, Ele não nos deixou nas trevas, mas olhou com misericórdia para nossa fragilidade e continuou a nos amar, continuou sendo fiel, pois sabe que o homem necessita de Seu auxílio. “Onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm. 5, 20), pois o Pai, para reconciliar Consigo o gênero humano, enviou ao mundo o Seu Filho Unigênito e “nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em nos ter enviado ao mundo o seu Filho único, para que vivamos nele. Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos ele amado, e enviando o seu Filho para expiar os nossos pecados” (1Jo. 4, 9-10). Por amor Deus perdoou a infidelidade de todos os homens e mulheres que fizerem a escolha de O seguir. Não soubemos amar nosso Pai, mas Ele nos amou de tal forma que nos enviou Cristo Jesus, Aquele que tira o pecado do mundo.
O Senhor fez alianças com o Seu povo ao longo da história e, mesmo assim, continuaram O traindo e se voltaram para os ídolos. Foi enviando Jesus para estabelecer uma “nova e eterna aliança”, derramando até a última gota de Seu sangue no madeiro da cruz que recebemos novamente o direito de filhos adotivos de Deus e herdeiros do Céu.
A cruz é a manifestação máxima do amor do Criador pelas criaturas, ou seja, por nós. Não há e não haverá no mundo uma prova tão radical de amor como esta que levou Jesus à, mesmo sendo Deus, aceitar e viver a dor do Calvário e a suportar cada golpe dado em Sua carne. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos” (Jo. 15, 13).
Podemos concordar com São João Paulo II e afirmarmos com toda certeza: “o amor nos explica tudo!”. O amor explica a infinita misericórdia do Deus vivo por cada um de nós, misericórdia que perdoa e esquece dos nossos pecados. O amor explica a Cruz e todo sangue derramado por Jesus que lavou nossa alma de toda a mancha do pecado. O amor explica o dom da vida que nos é concedido dia após dia.
Aspiramos Deus, aspiramos o infinito, aspiramos a felicidade. Nosso coração não repousa enquanto não está no Amor, pois “o desejo de Deus está inscrito no coração do homem” (CIC n° 27).
A procura do homem por seu Criador, esta inquietação em sua alma, muitas vezes não é compreendida e, por isso, ele busca saciar sua alma que se encontra vazia nos prazeres desordenados da carne. Porém, aquele que busca a felicidade no álcool, nas drogas, na pornografia, na prostituição, na masturbação, nos relacionamentos com pessoas do mesmo sexo está apenas na ilusão e seu coração se assemelha a um poço fundo, vazio e escuro. Em nada disso se pode encontrar o verdadeiro amor, pois somente Deus é amor.
A decisão é individual e particular. Cabe a cada um escolher seguir ou não à Cristo, o Amor que nos explica tudo. Tomemos esta decisão com a consciência de que este amor tem as suas exigências, basta olharmos para o exemplo de Cristo.
“Simão, filho de João, tu me amas?” (Jo. 21, 15) esta pergunta também é dirigida a nós e qual é nossa resposta?
Uma certeza podemos ter: se escolhemos Deus nada poderá nos separar de Seu Amor. “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada?” (Rm. 8, 35).
Que São João Paulo II interceda por cada um de nós e nos ensine a ver toda nossa vida sob a perspectiva do Amor.
O amor explicou cada coisa.
O amor resolveu tudo para mim.
É por isso que admiro o amor
onde quer que se encontre.
Se o amor é tão bom e simples…
Se sentimos saudade e nostalgia…
Então eu entendo por que Deus
aprecia as pessoas simples…
Cujos os corações são puros
mas não sabem expressar o amor.
Deus veio de longe…
E Ele parou
a um passo do vazio…
perto de nossos olhos.
Talvez a vida seja uma onda de surpresas…
Uma onda maior do que a morte.
Não tenha medo. Nunca!
(João Paulo II).
[1] GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho. São Paulo: Discurso Editorial; Paulus, 2006.
Matheus Pedrosa, 1º do discipulado.